Étiquette : Meditação sobre Ruínas

DEUS

À noite, há um ponto do corredor
em que um brilho ocasional faz lembrar
um pirilampo. Inclino-me para o apanhar
— e a sombra apaga-o. Então,
levanto-me: já sem a preocupação
de saber o que é esse brilho, ou
do que é reflexo.
Ali, no entanto, ficou
uma inquietação; e muito tempo depois,
sem me dar conta do motivo autêntico,
ainda me volto no corredor, procurando a luz
que já não existe.

Nuno Júdice, Meditação sobre Ruínas, Quetzal editores, Coleção Poesia, 1994 ; Edição/reimpressão 1999.

DIEU

La nuit, il y a dans le couloir
un point qui brille comme
un ver luisant. Je me penche pour le saisir
— et l’ombre l’efface. Alors,
je me lève : déjà sans la préoccupation
de savoir ce qu’est cette lueur, ou
de quoi elle est le reflet.
Là, cependant, persiste
une inquiétude ; et longtemps après,
sans me rendre compte du vrai motif,
je retourne dans le couloir, cherchant la lumière
qui n’existe plus.

Nuno Júdice, Méditations sur des ruines in Un chant dans l’épaisseur du temps, suivi de Méditations sur des ruines, Éditions Gallimard, Collection Poésie, 1996, réimp. 2001, page 144. Traduit du portugais par Michel Chandeigne.